Manifestação
Manifestar está na moda. Não existe uma única conta de Instagram, livro ou blog mínima ou remotamente relacionado com espiritualidade ou esoterismo que não aborde o poder e a pratica da manifestação.
Manifestar sob este ponto de vista significa usar algum tipo de energia esotérica ou poder espiritual para concretizar os nossos desejos e intenções. As técnicas e os pressupostos práticos variam e vão desde a visualização, à exposição planetária, escrita e ou uso de pedras e cristais, por exemplos. Os próprios óleos essenciais são ferramentas adequadas a isso.
Confesso que eu própria me sinto atraída por alguns destes rituais mas confesso também que gosto de reflectir sobre aquilo que faço e distinguir a raiz e o resultado daquilo a que sou compelida a fazer. Numa sociedade que é cada vez mais critica observo, também e cada vez mais, um fenómeno que parece estar no oposto dessa crescente e aparente tendência. Que é a facilidade com que seguimos formulas mágicas e profetas da solução quando aquilo que está em causa são os nossos medos, desejos e aspirações mais profundos. Vejo muitas pessoas a executarem “rituais de manifestação” sem sequer tirarem do bolso um raciocínio reflexivo que as leve a perguntar se “aquilo” pode de facto fazer sentido. Eu própria teria de levantar o braço se alguém perguntasse à plateia: quem alguma vez já seguiu instruções de outra/o, sem refletir sobre aquilo que estava a fazer, quando a promessa de executar tal acto era a concretização de algo que queria muito?
MANIFESTAÇÃO - diferentes formas de o fazer
Manifestar, Manifesto, Manifestação - se pensarmos bem, a expressão remete para um campo de ação muito mais alargado dos que colocar pedrinhas ao luar. Tem a ver com a capacidade humana de conceber, idealizar, projectar e trazer essas ideias para a realidade e o mundo dos factos. Tem a ver com concretizar ou tentar forçar essa concretização. Tem a ver com luta e materialização, com sonho e concepção mas também com o lado sofrido de dar à luz e colocar no mundo aquilo que num momento anterior estava só no plano ideal. Tem a ver com processo e disciplina, tem muito pouco a ver com só estalar os dedos, fechar os olhos e ver as coisas acontecer.
Quando os nossos pensamentos dançam sobre as entranhas da manifestação temos sempre que manter um pé naquilo que é espirito e outro naquilo que é fisico. Falar sobre materialização é falar sobre uma ponte é sacar de um baralho de Tarot a carta da Temperança e coçar a cabeça à procura de um significado lógico para ela. Porque nada na vida pode ser concretizado, de forma eficiente, sem estas duas componentes. Por isso talvez, a grande falha das receitas místicas de manifestação seja um disclamer no final dos ingredientes. Atenção, este ritual serve só como uma semente deitada à terra, para de facto atingir aquilo que deseja, vai ter de regar, nutrir, proteger e eventualmente transplantar aquilo que acabou de manifestar.
MANIFESTAÇÃO - Amor ou repulsa?
Dito isto, impõe-se que eu própria faça um disclamer sobre aquilo que escrevi até aqui. Adoro manifestar. E se calhar até adoro manifestar sob qualquer que seja o significado especifico em que usamos a palavra. Mas a minha forma preferida de manisfestação revela-se num ambiente mais espiritual e traz-me sempre o bónus da paz e da tranquilidade. De saber que tenho a capacidade de me desenrascar e providenciar as minhas necessidades básicas e imediatas mas também de que não ando aqui sozinha e de que alguém lá em cima cuida de mim.
Chama-lhe energia, universo, Deus, vida… ou então não lhe chames coisa nenhuma mas pensa nas vezes em que precisas-te de algo na vida e exactamente aquilo que precisavas apareceu. Depois pensa nas vezes em precisaste e não apareceu.
MANIFESTAÇÃO - Histórias na primeira pessoas
A minha vida está cheia de sincronismos, uns maiores outros mais pequenos, aqueles que cabem facilmente na categoria das coincidências e outros acontecimentos e factos que sabemos a partir das entranhas que são muito mais do que isso.
Vou contar apenas dois desses episódios mas que ilustram bem aquilo que temos estado a falar nas linhas anteriores. E por coincidência ou não os dois passam-se durante uma viagem à Índia.
Caminhar é um dos meus hobbies favoritos. Sejam curtas (5km) ou longas (>20km) gosto de me fazer acompanhar dos meus bastões de caminhada. Ajudam a compensar o meu excesso de peso e quando existem declives muito acentuados são uma benção divina porque se subir custa e o bastão funciona como uma bengala física, as descidas acentuadas causam-me medo e aí a bengala psicológica que me ampara a cada passo é fundamental. Na viagem à Índia não trouxe os bastões mas dei comigo a fazer duas caminhadas nas montanhas de Munnar. Os declives eram para lá de acentuados e assim que realizei o desafio comecei mentalmente a pedir: por favor, um bastão. Não foi imediato e tive de colaborar, varrer o chão com o olhar à procura que um pau gigante aparecesse. Até que quando a subida me começou a tirar o fôlego (caminhar com o alto nível de humidade das terras indianas é bem mais difícil do que fazê-lo na amenidade de Portugal) o bastão (vulgo pau) apareceu. Podem pensar que esta história não tem nada de transcendente mas asseguro-vos que sim. Quem caminha sabe. Podem passar kms ou até dias de caminhada… podemos não fazer outra coisa se não olhar para o chão mas aparecer um pau com a altura e espessura suficiente para sustentar um adulto numa caminhada não é algo assim tão provável especialmente se estivermos numa plantação de chá em que a vegetação circundante não atinge mais do que os 50 cm.
A outra, aconteceu à chegada a Mumbai. A cidade dos sonhos seria a nosso último paragem desta viagem. Dali, seguiríamos para casa e Mumbai seria o ponto final na nossa lua de mel. Quando programei a viagem, imediatamente o The Taj Mahal Palace Hotel em Mumbai saltou-me à vista. Mais do que isso criou um movimento visceral de profundo desejo e atração. Apesar de ter destinado uma fatia generosa do nosso orçamento da viagem para o alojamento em Mumbai o Taj Mahal ficava de fora dessas contas por uma larga margem de erro. Mas ficámos os dois a sonhar com uma noite no palácio.
Já a caminho do aeroporto de Goa, onde apanharíamos o avião para Mumbai recebi uma mensagem a dizer que nos tinham mudado o alojamento. À chegada dirigimos-nos ao novo hotel e qual não foi o nosso espanto quando na recepção nos disseram que a nossa reserva não era ali e sim nas instalações do lado, nada mais nada menos que o THE TAJ MAHAL PALACE HOTEL. Umas horas depois percebi porquê: a cidade estava cheia por causa do G20, os hotéis lotados e provavelmente para não separem grupos, puseram-nos a nós ali.
Manifestação - o passo a passo
Para que a vida nos dê algo que queremos existem alguns pressupostos que tem de se verificar:
- Tens de pedir
- Tens fazer a tua parte
- Tens de precisar
Ou seja,
- Tens de pedir (não sei se importa muito a forma como o fazes, numa carta, uma imagem colada na parede, no ecrã do teu telemóvel ou visualizada vezes sem conta na tua cabeça. Talvez a conjuntura astral ou a fase da lua façam diferença ou talvez não. A salva e o pau santo, os cristais podem ou não contribuir. Aquilo que tenho a certeza é que tens de pedir e que isso é um acto de coragem porque pedir ou no fundo manifestar implica um elevado nível de exposição e a eventual consequente frustração. Assumir que se quer determinado resultado é um exercício de poder e maturidade, nem todos somos capazes de o fazer e por isso muitas vezes ficamos pelo “eu gostava de ter”)
- Tens de fazer a tua parte (tens de colaborar, de te por a jeito, de fazer o que estiver ao teu alcance para concretizar e não ficar à espera de braços cruzados que a intervenção divina aconteça. As vezes fazer a nossa parte significa criar a oportunidade outras apenas saber recebê-la )
- Tens de precisar (a vida - chama-lhe como quiseres - não dispara energia aleatoriamente e muito menos para satisfazer caprichos mimados. A manifestação quando se concretiza está sempre alinhada com aquilo que de facto precisamos e que nos faz dar um passo em frente na pessoa em que nos precisamos de tornar para chegar aonde temos de chegar)
Mas Bárbara, perguntam vocês, ficar duas noites num hotel de luxo em Mumbai é algo que tu realmente precises? Contribui em quê para o teu desenvolvimento.
Não faço ideia - respondo eu. Que já me fiz essa pergunta e sinceramente não faço ideia qual seja a resposta.
Mas uma coisa sei, o nosso caminho nem sempre é feito de respostas. Muitas vezes, aquilo que nos faz evoluir e andar para a frente… são as perguntas.
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